Assim sem você...

Desde muito pequenininho o Francisco soooofre pra dormir. Quando minha mãe estava aqui nós brincávamos que pra dormir ele primeiro entrava num túnel escuro, e lá acabava muito angustiado, então chorava, chorava, chorava...Só quando "encontrava a luz" e conseguia sair do túnel é que se acalmava num choro com soluços e suspiros e então dormia.
Agora ele já se perde bem menos dentro do túnel, mas ainda sooooofre pra dormir, parece que não quer se entregar ao sono, então..., ele sente sono, fica bravo, se irrita, luta e reluta, briga com o sono, segura-se em piscadas pesadas e algumas "pescadas", até que não aguenta mais e dorme. Mas sempre sob algum protesto e muita indignação por ter que dormir.
Ontem a noite ele ficou realmente bravo, chorou de ficar roxo. Eu sabia, porque já sei discriminar (ponto pra mim), que não era cólica, então comecei a conversar com ele e dizer que percebia que ele estava bravo, mas que não conseguia entender porque e que era pra ele me ajudar a lhe ajudar... Ele foi se acalmando e ficamos nos dois em silêncio no seu quarto, pensando e tentando entender o que se passava que lhe deixava tão bravo.
Hoje de manhã percebi que ele não sofre se dormir sem perceber, então fiquei convencida de que seu choro era um protesto, uma indignação diante do fato de ter que dormir, mas porquê? Eis que então a tarde tivemos uma importante conversa enquanto  eu lhe embalava e tentava lhe acalmar de sua "brava braveza" (Digo brava braveza porque apesar de cansativo, acho bonito a força com que ele faz seus apelos)
Disse a ele que para o sono só havia uma saída - Dormir, e que seria bom se ele conseguisse se entregar ao sono e se aninhar nos "braços de Morfeu", que não era pra se preocupar que não nos perderíamos, que ele não iria se perder de mim, que nos sepraríamos por um breve espaço de tempo, e tornaríamos a nos achar.
Ele escutou atentamente minha "louca" conversa e diante destas palavras foi se entregando ao sono e se aninhando em meus braços, dormiu um sono tranquilo e reparador.
Enquanto olhava ele dormir pensei no quanto deve ser angustiante se entregar ao sono sem ainda saber que é possível acordar, como deve ser angustiante se separar sem saber que é possível  se reencontrar, como deve ser difícil se perder do outro quando isso significa se perder um pouco de si mesmo...
Se toda essa conversa vai ajudar o Francisco a dormir sem tanto sofrimento eu não sei, mas certamente irá me ajudar a ter ainda mais paciência e carinho com esse serzinho que bravamente vem desbravando o mundo dos humanos.